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Caminho da Cura

  • Foto do escritor: Instituto Mãe Balbina
    Instituto Mãe Balbina
  • 29 de jul.
  • 2 min de leitura

Obaluaiê o mistério da existência: uma imersão nos rituais que celebram a vida e transmutam a morte.


*Por Mãe Gardênia d´Iansã

Obaluaiê nos ensina que o silêncio e a cura. É um orixá que não fala, mas tudo diz. Louvar ele é respeitar os ciclos da vida, reconhecer nossas dores e confiar no poder de transformação do sagrado.


O ritual de pembar o terreiro antes de iniciar os trabalhos vem do antigo Catimbó.
O ritual de pembar o terreiro antes de iniciar os trabalhos vem do antigo Catimbó.

A obrigação de Obaluaiê no Terreiro Umbanda Jesus Maria José, com quase 69 anos de história, representa a perpetuação de um saber ancestral profundamente enraizado nas práticas afro-brasileiras. Realizada anualmente antes de 16 de agosto, essa cerimônia incorpora elementos simbólicos, sincréticos e espirituais que integram diferentes visões religiosas e culturais, como apontam Prandi (2001) e Segato (1995), revelando sua relevância histórica e social no contexto da Umbanda cearense.


A ritualística voltada a Obaluaiê evidencia, do ponto de vista antropológico, a mediação entre o visível e o invisível, o corpo e o espírito, por meio das danças, cantos e oferendas. Segundo Goldman (1984), a religiosidade afro-brasileira articula experiências corporais e sensoriais como canais de espiritualidade, tornando o culto a Obaluaiê uma experiência de cura coletiva e de reafirmação das identidades étnicas no espaço do terreiro.


Sob o olhar sociológico, a prática preserva laços comunitários e formas de solidariedade social. A cerimônia interna de 28 de julho, restrita aos filhos da casa, reforça vínculos de pertencimento e respeito à hierarquia sagrada. Conforme Oliveira (2008), os terreiros de Umbanda operam como núcleos de resistência simbólica e social frente à marginalização, funcionando como espaços de autonomia, cuidado e preservação da memória afrodescendente.


Historicamente, o sincretismo com São Lázaro e São Roque revela estratégias de sobrevivência religiosa diante da colonização e do cristianismo hegemônico. Conforme afirma Muniz Sodré (1988), o sincretismo permitiu ressignificações teológicas, mantendo os princípios da ancestralidade negra em meio à repressão cultural. Na Umbanda local, a obrigação de Obaluaiê expressa uma teologia do cuidado, em que os interditos alimentares e os alertas espirituais se tornam práticas de saúde integral.


A obrigação de Obaluaiê, com encerramento em 15 de agosto através da entrega de oferendas ao mar, reafirma a potência da fé como prática de resistência e reconstrução simbólica. Como destaca Neusa Santos Souza (1983), rituais afro-brasileiros produzem subjetividades afirmativas. A continuidade dessa prática no Terreiro Umbanda Jesus Maria José representa uma pedagogia espiritual que educa, cura e fortalece a dignidade de um povo historicamente silenciado.


IMAGENS pertencentes ao Instituto Mãe BAlbina

TEXTO: Filho de Pemba

BIBLIOGRAFIA:

GOLDMAN, Marcio. Razão e diferença: aflições religiosas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006. 248 p.

MUNIZ SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a forma social negro-brasileira. Petrópolis: Vozes, 1988. 184 p.

OLIVEIRA, Pedro Fernando Bendassolli de. Umbanda e sociedade: entre o sagrado e o profano. São Paulo: Paulinas, 2008. 189 p.

PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. 624 p.

SEGATO, Rita Laura. Santo Diabo: uma viagem pelo imaginário religioso popular. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1995. 272 p.

SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro em ascensão social. 9. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2005. 115 p.


 
 
 

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