Herança Plural
- Instituto Mãe Balbina
- 4 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
*Por Mãe Gardênia d´Iansã[2]
O culto à ancestralidade no Dia de Finados reforça o valor da continuidade da vida e da união entre os mundos material e espiritual. É um momento para fortalecer laços de amor e respeito, sentindo que, mesmo distantes fisicamente, os antepassados permanecem presentes espiritualmente e influenciam positivamente o destino de seus familiares e da comunidade como um todo.
Imagem com direitos autorais[3].

Crédito Foto: Gladyston Rodrigues/EM.D.A. Press
A relação entre o catolicismo, o Dia de Finados e a Umbanda oferece uma perspectiva rica sobre como diferentes tradições espirituais interagem e se transformam em um contexto multicultural como o do Brasil. Esse sincretismo religioso revela como a fé se adapta e cria espaços de pertencimento para praticantes que transitam entre tradições, combinando elementos de diferentes religiões para responder às necessidades espirituais e sociais da comunidade.
No catolicismo, o Dia de Finados é uma data voltada à oração pelos mortos, refletindo a crença na vida eterna e na intercessão dos vivos para que os falecidos possam alcançar a salvação. Católicos visitam cemitérios, acendem velas e fazem orações para oferecer descanso às almas dos entes queridos, reforçando a conexão com os que partiram e renovando a esperança no encontro na vida após a morte.
No dia de Finados, “aos que visitarem o cemitério e rezarem, mesmo só mentalmente, pelos defuntos, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos. Diariamente, do dia 1º ao dia 8 de novembro, nas condições costumeiras, isto é, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice; nos restantes dias do ano, Indulgência Parcial (Enchr. Indulgentiarum, n.13)”[4].
Na Umbanda, o Dia de Finados ganha um significado ampliado pelo culto aos ancestrais e pela interação com espíritos que auxiliam e orientam no cotidiano. A tradição umbandista incorpora elementos de várias religiões – incluindo o catolicismo, o espiritismo kardecista, e influências africanas e indígenas.
Para os umbandistas, o Dia de Finados é uma oportunidade de fortalecer os laços com os espíritos de familiares e guias espirituais, como os Pretos Velhos e o povo das Almas, que são honrados por sua sabedoria e proteção. Esse culto ancestral carrega a visão de que os mortos não estão "distantes" dos vivos; ao contrário, permanecem presentes e influentes na vida cotidiana.
“O Dia de Finados na Umbanda é um momento significativo para a prática religiosa, marcado por rituais de homenagem e conexão com os espíritos dos antepassados. Durante esses dados, os umbandistas realizam práticas como orações, acendimento de velas e oferendas, especialmente ao Orixá Omulu, que representa a morte e a cura. Essas ações não visam apenas registrar os que partiram, mas também oferecem ajuda espiritual a eles, além de manter a conexão com a ancestralidade”[5].
Antropologicamente, essa convivência entre o catolicismo e a Umbanda reflete o fenômeno do sincretismo religioso brasileiro, em que elementos de várias tradições se misturam, muitas vezes devido a processos históricos de resistência e adaptação. Durante a colonização, a imposição do catolicismo sobre escravizados africanos e populações indígenas resultou na incorporação de símbolos católicos em práticas religiosas de origem africana, permitindo que os praticantes mantivessem seus cultos e tradições sob o disfarce de celebrações católicas.
O sincretismo da Umbanda representa, então, uma resposta a essas imposições, criando uma nova tradição que preserva as práticas e crenças africanas, enquanto dialoga com o cristianismo. A Umbanda, ao reconhecer o valor dos ancestrais e a ligação espiritual com eles, dá continuidade a um sistema de crenças que resiste ao tempo, adaptando-se à sociedade brasileira, mas mantendo-se fiel a suas raízes de respeito e gratidão aos antepassados. Assim, a data une, num mesmo ato de memória e reverência, a cultura de diferentes grupos e valores, reforçando a identidade cultural brasileira enquanto uma herança plural.
[1] HERANÇA PLURAL, texto produzido em 03/11/2024, trata do dia de finados, tendo como objetivo demonstrar que a Umbanda absorve ritos de outras religiões como: catolicismo; espiritismo; pajelança; e africanas.
[2] MÃE GARDÊNCIA d´IANSÃ, sacerdotisa de Umbanda, coordenadora do Centro Espírita de Umbanda Jesus Maria José terreiro fundado em 15/11/1956, referência umbandista, artística e cultural do Estado do Ceará.
[3] Jornal ESTADO DE MINAS: https://www.em.com.br/gerais/2023/11/6054647-dia-de-finados-hora-de-reverenciar-quem-ja-se-foi-e-lembrar-historias.html Acesso em: 3 nov. 2024.
[4] IGREJA CATÓLICA. Enchiridion Indulgentiarum, n.13: Manual das Indulgências. 4.ed.
[5] FEDERAÇÃO UMBANDISTA DO BRASIL. O significado do Dia de Finados na Umbanda. Disponível em: [Umbandabrasil.org.br] (Umbandabrasil.org.br . Acesso em: 3 nov. 2024.
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