*Por Mãe Gardênia d´Iansã
Nossa experiência não é única; nossos irmãos do Candomblé, da Jurema e da Quimbanda também enfrentaram agressões semelhantes.

Somos umbandistas, uma religião que, ao longo dos anos, tem demonstrado resistência diante de preconceitos e discriminações religiosas. Essas injustiças são fruto da imposição de crenças advindas das classes dominantes, criando feridas expostas na sociedade. Nossa experiência não é única; nossos irmãos do Candomblé, da Jurema e da Quimbanda também enfrentaram agressões semelhantes. No entanto, a verdadeira cultura popular ancestral, que é a marca genética do povo brasileiro, não pode ser apagada.
No dia 22/02/2025, aconteceu o 2º Pré-Carnaval do Cordão do Galo Preto, teve início às 18:00 horas e término às 23:00. Acompanhe os registros ao final da publicação.
Cultura Afro-Indígena e Carnaval
As religiões de matriz afro-indígena brasileira, como a Umbanda, são expressões culturais profundas que resistiram ao tempo. O Carnaval, uma das maiores manifestações culturais do Brasil, também enfrentou tentativas de apagamento de suas raízes. As classes dominantes frequentemente tentam desqualificar essa história através da discriminação e desqualificação.
Cordão do Galo Preto: Um Espaço de Celebração
Em dezembro de 2023, decidimos criar um espaço para celebrar o "carnaval do povo". Foi então que surgiu o Cordão do Galo Preto[1]. A escolha do nome foi uma homenagem ao Mestre Nego Chico Feiticeiro, uma figura que representa a alegria e o movimento. Com ele, não há tristeza; prevalece a celebração e a alegria. O Cordão do Galo Preto é um tributo à cultura popular ancestral e um espaço onde podemos levantar a bandeira do Carnaval autêntico, livre de imposições e preconceitos.
O Cordão do Galo Preto é mais do que um evento carnavalesco; é uma declaração de resistência cultural e uma celebração da diversidade religiosa e cultural brasileira. Ao homenagear figuras como Mestre Nego Chico Feiticeiro, reforçamos a importância da alegria e da comunidade em nossas tradições. O Carnaval, como expressão máxima da cultura popular, deve ser preservado em suas raízes autênticas, sem a interferência de interesses externos que buscam desqualificar nossa herança cultural.
Pré-Carnaval no Brasil
No Brasil o pré-carnaval é uma grande celebração que antecede o Carnaval propriamente dito, onde vai marcando o início das festividades que culminam nas grandes festas de rua e desfiles de escolas de samba. Para entender essa tradição, é importante mergulhar em sua história, que remonta ao período colonial e às influências europeias e africanas.
As origens no Entrudo
Batizado como pré-carnaval, ele tem suas raízes no entrudo, uma festa popular trazida pelos portugueses durante a época da colonização. O entrudo era uma brincadeira que ocorria nos três dias anteriores à Quaresma, período de jejum e reflexão para os católicos. Essa prática se estabeleceu no Brasil em meados do século XVII e foi muito popular até o século XIX, desaparecendo[2] gradualmente no início do século XX, devido ao racismo e à repressão policial contra a brincadeira.
No Rio de Janeiro, o entrudo envolvia tanto as pessoas escravizadas quanto as famílias de origem europeia. Era comum o uso de "limões de cheiro", recipientes que continham água perfumada ou, em alguns casos, líquidos malcheirosos, que eram arremessados nas pessoas que passavam pela rua. Essa prática era vista como uma forma de zombaria pública e divertimento.
Pré-Carnaval em Fortaleza
Em Fortaleza[3] foi uma celebração que antecede o Carnaval propriamente dito, marcando o início das festividades carnavalescas na capital cearense. Neste ano, a programação do Pré-Carnaval 2025 foi amplamente descentralizada[4], alcançando diversas regiões da cidade e atraindo um público diversificado. É uma celebração vibrante que antecipa o Carnaval, trazendo alegria e animação para a cidade. Com sua programação diversificada e descentralizada, ele se tornou um evento que envolve toda a comunidade, promovendo a cultura e a tradição carnavalesca cearense. O Cordão do Galo Preto, como parte dessa tradição, certamente contribui para o clima festivo que caracterizou o Pré-Carnaval na cidade.
Texto: Luís Soares
Fotos: Mariana Maciel
Imagens: Acervo do Instituto Sociocultural Mãe Balbina
[1] https://www.brasildefato.com.br/2025/02/20/pre-carnaval-em-fortaleza-e-marcado-por-blocos-e-festas-descentralizadas-nas-regionais/ Acesso em 19/02/2025.
2 ttp://cidadedasartes.rio.rj.gov.br/noticias/interna/596#:~:text=O%20%22Entrudo%22%20era%20um%20tipo,%C3%A1gua%20(lim%C3%B5es%20de%20cheiro). Acesso em 20/02/2025.
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